domingo, 20 de novembro de 2022

O QUE É “BENTON FALLS”? (Um ligar no CliffHangerVerso)

 


Ao longo dos anos, eu escrevi muita coisa que nunca postei, entre outros motivos o maior deles era por achar que de algum modo aqueles escritos não se adequavam às minhas composições narrativas.

Trata-se de histórias mais pesadas, melancólicas e raivosas envolvendo a população de uma cidadezinha do interior cujos habitantes, pelo menos a sua maioria, escondem segredos tenebrosos. Em parte tem a ver com lembranças próprias da minha infância e da minha adolescência, mas a verdade foi bem diluída com a ficção, resultando numa beberagem que no final das contas teve o seu sabor bastante alterado.

Esses escritos ficaram esparramados em vários cadernos por anos e anos. Há coisa de alguns meses, comecei a juntá-los, decidido a uni-los em um projeto só. No começo não sabia muito bem o que seria, mas com o passar dos meses a coisa foi tomando forma. Sob o título comum “Benton Falls” (nome da pseudofictícia cidade), resultou em cento e poucas páginas divididas em oito capítulos.

Como sei que não vou publicar em livro impresso e a ideia da publicação em e-book não me atrai nem um pouco, resolvi fazer uma versão em vídeo. O modelo escolhido foi uma série dividida em quatro temporadas, com videonarrativas ilustradas por mim mesmo. Os episódios são interligados, os primeiros apresentam os personagens e depois suas vidas vão se entrelaçando. Por enquanto, o esquema conta com 50 episódios planejados, mas o formato final pode mudar.

Estou nesta data trabalhando na produção do primeiro episódio, que em breve será postado no YouTube. E vamos ver se o projeto chega à sua conclusão ou se para no meio do caminho.

sábado, 3 de setembro de 2022

O ÚNICO MOTIVO

 



Os animais irracionais têm, entre outras inúmeras vantagens quando comparados a nós, uma que, a meu ver, se destaca. O fato de nunca pensarem, simplesmente porque não têm essa noção, a respeito da própria morte. Ao contrário de nós, seres humanos, eles não ficam antecipando, num exercício inútil e masoquista, o “quando” e o “como” será seu livramento das amarras do invólucro carnal. Animais irracionais não vivem senão no presente, para eles existe apenas o “agora” (que, no fim das contas, é realmente o único tempo que existe, mas nós insistimos em viver presos, ora no passado, ora no futuro, o que é igualmente inútil e masoquista...).

Eu penso muito na Morte. Normalmente com terror, não por ela em si, mas pelo que vem após. Não sou uma boa pessoa. Não me vejo salvo, por mais que a ideia me agrade e eu queira escapar da Eterna Grelha e da perpétua companhia das mais asquerosas pessoas que já existiram neste planeta. Penso então na Morte não como o fim dos sofrimentos, mas na troca de vários problemas temporários por um único problema eterno: a danação, a ausência de Deus e o ranger de dentes.

Por outro lado, imagino que saber quando morrerei me faria muito mais mal do que bem. Porque, à medida que fosse chegando o Dia, eu ficaria cada vez mais desesperado, além da razão óbvia haveria a frustração de não conseguir fazer tudo que eu quero antes do Fim. Na verdade, praticamente nunca fiz o que quero nem nas cinco décadas nas quais já existi.

Só um motivo se me afigura válido para desejar a antecipada ciência do dia do meu Passamento. Tacar fogo em tudo que já produzi em termos de textos e de desenhos. E por que isso?

Primeiro porque gostaria de poupar aos meus filhos o trabalho de se livrar das tranqueiras deixadas pelo pai morto. Depois, porque vivo cada vez mais uma relação de amor e ódio (cada vez menos amor e cada vez mais ódio) com a parcela da minha produção que ainda mantenho comigo. Tantas boas ideias que poderiam (se eu estivesse no lugar certo na hora certa e conhecesse as pessoas certas) ter me dado, como diria Roger Waters, “fame, fortune and glory”, ou, como disse Robert Plant diante de suas polaroides, “poder, mistério e o martelo dos deuses”. Mas, no fim, por uma série de circunstâncias, nunca me renderam nada, a não ser expectativas seguidas de frustrações...

E se o autor das obras arderá em chamas que não se extinguirão jamais, por que a obra mesma não pode ser queimada pelo efêmero fogo da dimensão do aquém?

São Luís de Montes Belos, 03/09/2022, sábado, 20h40.